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Barrica de Madeira e Vinho

Vamos falar sobre:
19/Mai
2023
Barrica de Madeira e Vinho

Coluna semanal escrita por Mário Telles Jr.

A relação entre o vinho e as barricas de madeira é muito antiga.

 

Heródoto, o historiador grego, já nos contava que os mesopotâmios, transportavam seu vinho em barricas de palmeira, no Rio Eufrates.

 

Este método de transporte era pouco habitual e genérico, podendo ser utilizado para outros bens, como grãos e cervejas, sendo à época preferida a ânfora e as peles de animais como cabra ou vaca, sob a forma de odres, para o transporte e comercialização do vinho.

 

Recipientes abertos de madeira com alças, chamados de “haustrum” são utilizados para armazenagem e distribuição de vinhos desde o tempo dos egípcios, mas eram considerados pouco práticos e incapazes de efetivamente ser incorporados ao comércio de vinhos.

 

A barrica de vinho acaba se incorporando à rotina do mundo do vinho, a partir do Império Romano, quando os conquistadores conheceram as barricas utilizadas pelas tribos celtas que inicialmente as utilizavam abertas para fermentar o mosto e ao final, tampavam e selavam a mesma, com o objetivo de transporte e comercialização.

 

Como se percebe, alterações de gosto e sabor, sequer eram cogitadas, usando-se as barricas apenas como recipientes, práticos e eficientes pelo multiuso ( fermentação, guarda e transporte).

 

Como vimos anteriormente, a substituição das ânforas de argila pelas barricas de vinho só ganhará força, a partir de sua utilização pelos romanos, que as conheceram entre os celtas.

 

 

As barricas, que já eram conhecidas desde a Mesopotâmia, eram feitas de madeira de palmeira, que era difícil de dobrar e vasava com facilidade sendo estas duas qualidades (facilmente dobrável e maior impermeabilidade aos líquidos), além de ser muito abundante por toda Europa que tornaram-no o material preferido para a confecção das barricas, não sem antes testar uma infinidade de outras madeiras como cerejeira, acácia, castanheira, etc, que demonstraram clara inferioridade em relação ao carvalho.

 

 

É verdade que hoje, principalmente nos Estados Unidos, madeiras várias tem sido utilizadas em fases diferentes da vinificação e maturação, com o objetivo de criar vinhos “diferentes” dos habituais, mas sempre mais custosas e difíceis de fabricar e manipular.

 

 

Até outros tipos de carvalho pouco utilizados normalmente como o carvalho ibérico (com poros maiores e consequente aumento da oxigenação bem como teores aumentados de vanilina conferindo aromas mais abaunilhados ao vinho), foram vítimas deste modismo.

 

 

De qualquer forma, o homem aprendeu com o tempo que o carvalho é um recurso valioso na produção de vinhos e como tal deve ser usado judiciosamente, sem faltas ou excessos, servindo para trazer maior equilíbrio ao resultado final.

 

A barrica bordalesa hoje, adquiriu o caráter icônico das uvas ou dos vinhedos de Bordeaux, representando um símbolo acima do bem e do mal.

 

Nem sempre esta unanimidade existiu no passado, começando por seu volume que em cada região francesa era um, (Bearnaise 300 L Nantaise 230 L Piece Bourguignone 223 L Feuilette 132 L Queue 456 L) adaptado às exigências locais.

 

A lenda diz que seu nome deriva das barricadas da Revolução de 1830, na França que enterrou definitivamente a dinastia dos Bourbon, quando eram utilizadas cheias de terra para bloquear as estradas ou representarem exatamente um quarto de um “Tonneau” (900 l) e poderem armazenar 300 garrafas de 750 ml, o que seria pouco provável, já que as garrafas de 750 ml foram criadas mais modernamente, no século XX.

 

O mais provável é que a proporção entre superfície de madeira X volume de vinho represente uma relação ideal que otimiza a oxigenação obtida através dos poros, de seus efeitos educadores sobre os taninos do vinho e da eventual e menos importante passagem de componentes aromáticos da madeira ao vinho.

 

O que poucos sabem é que as barricas de maturação e de transporte apresentam aduelas de espessuras diferentes (20 a 25 cm para maturação e 30 cm para transporte).

 

A utilização da tostagem das barricas como recurso para potencializar os efeitos da passagem de compostos odoríficos e de taninos especiais (elagitaninos) para o vinho é muito recente e provavelmente ocorreu por acidente.

 

Como o uso do calor normalmente é usado para dobrar a madeira, dando às aduelas o formato arredondado de barril, percebeu-se que o uso de diferentes graus de tostagem interna da barrica traziam aromas e sabores adicionais aos vinhos que nelas era armazenados.

 

Isto ocorreu há cerca de apenas 30 anos e o hábito de classificar os diferentes tipos e gradações de tostagens é ainda mais recente, nesta área onde ainda engatinhamos.

 

Podemos didaticamente afirmar que os três níveis de tostagem mais importantes seriam: LEVE, MÉDIO, MÉDIO + e INTENSO, que são utilizados de acordo com a acidez, taninos e equilíbrio do vinho que iremos amadurece, suportando madeira mais nova e por mais tempo, os exemplares de maior estrutura.

 

Uma última recomendação importante é a de que madeira e fruta não competem mas se completam e é desta combinação harmoniosa que surge a verdadeira arte de produzir grandes vinhos de guarda, sendo ridícula e típica do desconhecimento crasso sobre vinhos, a. afirmação de ser a favor ou contra o uso da madeira.

 

Madeira em vinhos não é imposição mas recurso a ser usado judiciosamente, com sabedoria, tendo a compreensão de que se sua falta empobrece, seu excesso pode enterrar o mesmo em uma floresta pobre de carvalho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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